O uso medicinal e terapêutico da planta Cannabis Sativa L. já está consolidado entre a comunidade médica internacional, e vem ganhando cada vez mais aceitação entre a comunidade médica brasileira e a população em geral.
Isto se deve ao crescente número de estudos científicos clínicos rigorosos realizados em grandes centros, demonstrando inequivocamente a segurança e a eficácia do uso dos canabinoides no tratamento de diversas enfermidades. Além do tratamento de doenças, a suplementação com canabinoides derivados da planta também proporciona melhora na qualidade de vida, influenciando clinicamente e de forma significativa aspectos fundamentais do bem estar como sono, humor, apetite, dor e inflamação.
Os (fito)canabinoides são compostos químicos produzidos pela planta Cannabis Sativa L. em decorrência de seu metabolismo normal, e desempenham diversas funções na fisiologia vegetal. Estas moléculas repelem insetos e predadores, combatem infecções, e facilitam a comunicação com outras espécies vegetais e animais.
Quando administrados em humanos ou animais, os canabinoides interagem com enzimas e receptores integrantes do Sistema Endocanabinoide, ou sistema canabinoide interno, que responde a estas moléculas modulando profundamente virtualmente todas as funções orgânicas essenciais a vida, como é o caso da alimentação e digestão, exercício e repouso, sono e sexo, frequência cardíaca e pressão arterial, tônus muscular e relaxamento.
Dentre os canabinoides mais raros e desconhecidos, destaca-se o canabigerol (CBG), uma molécula produzida naturalmente pela planta Cannabis Sativa L., a partir do qual são sintetizados os demais canabinoides, sendo os mais conhecidos e pesquisados o canabidiol (CBD) e ∆9-tetrahidrocanabinol (∆9-THC).
O canabigerol, chamado assim por “gerar” os demais canabinoides, também demonstrou formidáveis propriedades terapêuticas em estudos experimentais, ou seja, estudos preliminares realizados em laboratório utilizando culturas de células ou mesmo animais de diversas espécies. No entanto, nem sempre os achados científicos experimentais se traduzem em reais benefícios terapêuticos quando aplicados na prática clínica, ou utilizados pela população em geral.
Devido a natureza bioquímica da planta, somente traços de canabigerol (<1%) estão presentes na planta em condições normais, tornando difícil a produção de medicamentos com esta molécula em escala farmacêutica, padronizada e industrial, e consequentemente dificultando a realização de estudos clínicos.
Apenas recentemente variedades da planta com maior expressão de canabigerol foram desenvolvidas, permitindo então a investigação de seus efeitos em humanos, e a comercialização de produtos contendo CBG para a população.
Recentemente, dois grandes estudos realizados em humanos investigaram a segurança e a eficácia terapêutica do canabigerol. Estes estudos foram realizados em co-autoria pelos médicos e pesquisadores norte-americanos Ethan Russo e Carrie Cuttler, dois dos maiores especialistas em Medicina Canabinoide do mundo, e pioneiros na investigação clínica do canabigerol.
O estudo intitulado “Pesquisa de pacientes utilizando preparações predominantes em canabigerol: efeitos medicinais percebidos, efeitos adversos e sintomas de abstinência” (tradução livre), publicado em 2021, foi um dos primeiros a estudar os efeitos do CBG em humanos. Os pesquisadores avaliaram quais as condições tratadas com canabigerol pelos pacientes, e a percepção da eficácia e ocorrência de efeitos colaterais nesta população.
Nas palavras do Dr. Ethan Russo “Ficamos surpresos com o número de condições diferentes que surgiram em 127 pacientes, e basicamente foram cerca de 30″, observou ele, que também explicou o significado dos resultados, indicando eficácia percebida do CBG como superior a medicina convencional por 100% dos pacientes, os poucos efeitos adversos relatados e sintomas de abstinência absolutamente inexistentes. Os resultados desta pesquisa sugerem que o CBG é seguro para ensaios de controle randomizados, o que leva ao segundo artigo de pesquisa publicado por estes investigadores.
O segundo estudo, intitulado “Efeitos agudos do canabigerol na ansiedade, estresse e humor: ensaio clínico de campo, cruzado, duplo-cego, com controle placebo”, publicado em 2024, demonstrou reduções significativas na ansiedade e estresse dos participantes, melhora da memória verbal, e ausência de intoxicação ou efeitos colaterais.
O Dr. Ethan Russo destacou os resultados significativos do estudo, incluindo as classificações subjetivas do estado de ansiedade: “é bastante incomum uma substância apresentar um efeito tão generoso sobre a ansiedade sem fazer com que as pessoas se sintam fortemente afetadas pelo medicamento, em outras palavras, não porque estão sedadas e não podem se incomodar. Portanto, isso é realmente diferente dos medicamentos ansiolíticos convencionais.”.
Os estudos demonstram que o canabigerol possui afinidade comprovada por diversos receptores moleculares no organismo humano, configurando mais um potencial aliado dos médicos e dentistas na prática da medicina e odontologia integrativas, sendo capaz de contemplar diversos sintomas simultaneamente.
REFERÊNCIAS
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